Posição lateral às teses da desnaturalização de Rousseau e da sobreorganização de Kropotikin é a do confinamento. A ideia-mestra é de Michel Foucault (Poitiers, 1926 – Paris, 1984) que estudou os dispositivos do poder disciplinar, e sustentou que o confinamento desqualifica o ser humano, tornando-o dócil e conformista. Foucault desenvolveu sua reflexão em torno da recuperação do saber filosófico, do dito e do escrito sobre as prisões, a sexualidade, a governabilidade e as práticas de subjetivação.
A sua tese sobre a prática e os efeitos do confinamento nas prisões foi demonstrada empiricamente por Haslam e Reicher (2012) nas midiáticas (e cientificamente corretas) séries da BBC. Segundo esta tese, o ser humano confinado nas organizações, seja fisicamente seja digitalmente, se tornaria moralmente nulo. A perda de centralidade do trabalho como componente da existência humana seria fruto da aversão à ancoragem no espaço e na razão unidimensionais regida pelo poder disciplinar.
As teses da desnaturalização, da sobreorganização e do confinamento têm em comum a atribuição do mal estar no trabalho não ao volume ou a intensidade do esforço, mas às interações sociais. Segundo as três teses, é o desgaste na interação entre o trabalho e o trabalhador que consome e aliena o que resta de humano na atividade produtiva.
Referências:
Foulcault, Michel (1977). Vigiar e punir: nascimento da prisão [1975]; Tradução de Lígia Pondé Vassalo; Petrópolis; Editora Vozes.
Haslam, S. A., & Reicher, S. D. (2012). Contesting the ‘nature’ of conformity: What Milgram and Zimbardo’s studies really show. PLoS Biology, 10(11).
Sobre a primeira tese, leia aqui.
Sobre a segunda tese, leia aqui.
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