Trabalho.
O management firmado na tradição da cultura técnica considera, equivocamente, o tempo algo a ser administrado, seja como ordenação da vida profissional, seja como medida do seu resultado. Ignora ou tenta anular a realidade e os efeitos da duração na sua característica mais própria: a de passagem, a de decurso. Substitui a temporalidade pela permanência, pela subsistência, pela estabilidade. Dá prioridade ao fato e ao dado sobre o vir a ser, sobre a transformação, sobre o imprevisto.
A perspectiva gerencial contemporânea desconhece a reflexão de Henri Bergson para a compreensão da temporalidade. Como se sabe, Bergson considerou a nossa constituição biopsíquica, cuja finalidade primeira é estabelecer condições favoráveis ao estar no mundo, para mostrar que o homo sapiens havia se transmutado em homo faber. Sustentou que ao homo faber interessa não o conhecido, o documentado, mas o vir a ser, o desconhecido, o representado.
Nas formas organizacionais em que estamos imersos, o conhecimento serve ao agir, serve para orientar a ação. Já o saber documentado serve à previsão. De modo que representa o vir a ser a partir de do que está aí, daquilo que esteve posto (positivismo), ou a partir de uma suposta inevitabilidade lógica do esgotamento dos modos de produzir (marxismo). Tende a escamotear a realidade do tempo. Ancora a vida laboral a antecipações formais ou transcendentais firmadas em crenças não comprovadas e não comprováveis. Restringe o vir a ser à clareza e à objetividade do ideado, do sabido, do usado e do consumido. Planeja no vazio, com base no que, por definição lógica, não virá a ser.
Cf. Silva, Franklin Leopoldo da (2013) O visível e o invisível do tempo, in Adauto Novaes (org.). Mutações: o futuro não é mais o que era; São Paulo; Edições SESC SP.
UTILIZE E CITE A FONTE.
CHERQUES, Hermano Roberto Thiry, 2015 – Berson: O tempo invisível. – A Ponte: pensar o trabalho, o trabalho de pensar – https://hermanoprojetos.com/2015/04/02/bergson-o-tempo-invisivel/