Há tempos se fala e se escreve sobre a metamorfose do trabalho. Metamorfose, (gr. metamórphósis,eós), no sentido de Kafka significa uma mutação: de homem a inseto. No sentido clássico de Ovídio, significa os renascimentos incessantes, mas sob forma diversa, como no budismo.
O que provoca uma metamorfose é o evento estrutural. A inclusão (o nascimento, a instauração, …), a exclusão (a morte, a falência, ….) ou o deslocamento radical (a mutação, a passagem do eixo da vida para o eixo da economia, …) de um ou mais elementos axiais da estrutura pregressa.
As metamorfoses podem ser induzidas. Antes de Ésquilo, os dramas não passavam de recitativos. Tespis foi o primeiro a introduzir um hipócrita, [gr. hupokritês,oû, o que dá uma resposta] um ator que representava um personagem e que se colocava em uma plataforma acima da orquestra. Elevado sobre seu coturno, o hipócrita, vestido de negro ou de púrpura e portando uma máscara – indicadora do seu humor e simultaneamente amplificadora – compartilhava a cena com os doze corifeus.
Foi Ésquilo, conforme se lê no quarto capítulo da Poética de Aristóteles[i], quem introduziu um segundo ator, e com ele o diálogo. O teatro grego teve outras mutações, mas a metamorfose introduzida por Ésquilo, do hipócrita feito protagonista [gr. prôtos, primeiro + agónistês, lutador], e do segundo ator, o antagonista, transformou o simples recitativo em arte dramática.
Não parece que uma metamorfose do trabalho esteja próxima. Para que tivesse realidade, dependeria de mudanças estruturais radicais seja da forma de valorar – a troca do tempo pela qualidade – seja do vínculo preponderante – a tônica do emprego substituída pela do profissionalismo – seja do conteúdo – o foco deslocado da reprodutividade para a autoria.
[i] Aristóteles (1974). Obras, São Paulo, Abril Editorial e Cultural