A internet dos objetos é a ambição ou a ameaça de fazer os objetos interatuarem, desempenhando funções sem a mediação humana. A geladeira que faz um inventário dos produtos que contém e compra as reposições necessárias no supermercado, a iluminação que se ajusta, abrindo e fechando janelas, aumentando ou diminuindo a intensidade da lâmpada, o sistema de irrigação que se comunica diretamente com satélites, verifica as condições do solo, e se auto programa, a recepção, preenchimento e devolução automatizada de formulários governamentais.
A internet dos objetos é toda interação entre mecanismos que elimina o trabalho que dispensa reflexão.
A internet dos objetos é tida como ameaça ao trabalho, mas pode ser a redenção, a emancipação das tensões da vida profissional, que reprimem o sonho do aperfeiçoamento de si, do cuidado com a pessoa. A cultura técnica contemporânea favorece a teatralização da imagem de si, a auto representação fictícia, a construção do trabalhador personagem. A banalidade não esgota o vício desta tendência. A hiperatuação susta o sentimento da existência vazia. Faz esquecer que a deseconomia do tempo só tem sentido quando se trata do tempo útil à vida, da vivência.
O tempo que se registra como trabalhado é o da experiência repetida, do mais do mesmo. A experiência [lat. experīrī, de ex – fora + per –teste], só lateralmente, e isto a partir do sec. XV, refere ao saber obtido, ao experimentado, à expertise. Mas, nisto também, difere essencialmente da vivência [lat. viventìa, estar em vida].
O trabalhador que repete tarefas é um fantoche: uma experiência do seu criador. Treinado, torna-se um robô, um boneco animado: a expressão de uma vivência alheia. A internet dos objetos assusta o trabalhador fantoche e o trabalhador robô, substituíveis por autômatos não humanos, mas abre oportunidade para o trabalhador criativo, liberto para o sonho da vida própria, para realização de uma vivência integral.