Das três formas de se conhecer o passado: a arqueológica, a histórica e a da investigação quantitativa de caráter acadêmico, a última é a menos útil à gestão de pessoas.
A arqueologia antropológica, ao reconstruir a vida de povos antigos, testemunha o que há de constante e o que há de evolutivo na conduta humana. Esclarece sobre como somos estruturalmente, sobre o que permanece e o que muda na diversidade imensa do organizar e das formas de se gerir bens e valores.
A ciência da história nos dá a conhecer o percurso remoto e recente das formas de entender e de agir que afetam a vita activa. A história ensina sobre as concepções, os condicionamentos, as trajetórias que conformaram e moldaram a contemporaneidade.
A pesquisa quantitativa acadêmica dá acesso a ocorrências particulares em períodos recentes. Procura medir o passado imediato em uma manifestação de cobiça pelo rigor epistemológico das ciências naturais. Desorienta e confunde ao eludir o desconhecimento das limitações explicativas do cálculo das magnitudes sobre a psique e a sociedade humana.
Einstein escreveu que “quando as proposições das matemáticas se referem à realidade não são certas; e quando são certas não se referem à realidade” (Cohen, 2010; 26). O mesmo e com maior razão deve ser dito sobre a aplicação dos cálculos à realidade laboral. Estes instrumentos não têm com reconhecer a dinâmica reflexiva das interações humanas. Limitam-se a relatar o caso, não têm como alcançar as estruturas coletivas e as individualidades.
A documentação de dados e fatos isolados ou seriados é inestimável para a antropologia, historiografia, sociologia. Para as ciências de gestão o fato (fäctun, o particípio passado de fäcere, o feito) e o dado (dätum particípio passado de däre, o que se deu) tendem a apresentar quadros parciais e obsoletos, ainda que de uma obsolescência recente. Tornados acessíveis meses ou anos após as situações a que se referem, conservam apenas os desbotados sinais de entes já dissolutos.
A gestão de pessoas, no que tem de relevante – a governança, o gerenciamento e os processos decisórios – opera necessariamente sobre o presente e sobre o futuro imediato. Por isto, as pesquisas quantitativas têm mérito simplesmente acadêmico. Não interessam aos practitioners porque referem a situações passadas, a ideias vencidas, a linearidade projetiva. Pouco tem a ver com o que é estrutural, com o que é cultural, com o que é, tout court. Menos ainda têm a ver com o que será, que é o que interessa.
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Cohen, Martin (2010) El escarabajo de Wittgenstein, traducción de Gabriel Firmín del Pilar Aranaiz y Francisco Miguel Cerén Gómez, Madrid, Alianza editorial.