Trabalho.
É ampla e variada a contribuição ao entendimento do fenômeno do trabalho do filósofo Herbert Marcuse (1898 – 1979). No que deixou escrito, figura a advertência de que não é a organização racional dos procedimentos sociais que cria a razão, mas o contrário: é o entendimento preexistente nos sujeitos que organiza racionalmente o mundo.
Marcuse construiu um esquema demonstrativo da articulação entre a “racionalidade”, enquanto “tecnificação da dominação”, e a “individuação” – o aniquilamento da personalidade. Sua tese é a de que os movimentos libertários foram absorvidos pelo sistema dominador mediante formas não-coercitivas de opressão.
Segundo Marcuse, o despotismo velado de regimes aparentemente tolerantes, ao levarem o espírito a aceitar as coisas “tais como elas se apresentam”, debilitariam as consciências, que se tornariam cúmplices da estrutura que as domina. As redes de proteção social e trabalhista, as liberdades de protestar, de eleger, de se drogar, de estudar e de se empregar onde se queira, anulariam a capacidade crítica.
Seres humanos com consciências equalizadas – o “homem unidimensional” – autossustentariam os regimes de dominação. Um processo de alienação que alimenta a si mesmo, de modo que o livre-arbítrio não pode aflorar dentro do sistema, mas tão somente em grupos minoritários. Grupos que não internalizaram a dominação oculta na tolerância ilusória. Gente alheada do poder, do controle da economia, da gestão organizacional. Trabalhadores sem voz.
UTILIZE E CITE A FONTE.
Freitag, Barbara (1986) A Teoria Crítica - Ontem e Hoje. São Paulo. Brasiliense Kettler, David. (1979) Herbert Marcuse: a crítica da civilização burguesa e sua transcendência; in Crespigny, Anthony e Minogue, Kenneth; Filosofia Política Contemporânea; Brasília; Editora da Universidade de Brasília Marcuse, Herbert (2015). O homem unidimensional. Tradução de Deborah Christina Antunes, Rafael Cordeiro Silva, Robespierre de Oliveira. São Paulo. Edipro.