Epistemologia.
Ao lermos e exploramos o mundo pelo caminho descarnado da Internet, nos dispensamos de o interpretar. Acrônica e acromática, a linguagem da Web convence por ser imediatamente inteligível. É facilmente aceita porque não implica em nenhum significado a ser descoberto. São palavras, símbolos e ícones parqueados para que possam ser colhidos e excretados quando conveniente.
O rebaixamento de nível no processo de decodificação fez com que, em apenas duas décadas, muitos de nós abandonássemos a aspiração milenar de sermos interpretes de nós mesmos para sermos pacientes da experiência equalizada dos outros. Rastreáveis, nos inscrevemos na crônica da manada.
Consta da Cabala Mercana que as regiões baixa, medíocre e altíssima do ser humano correspondem à sublimação do pensamento por três caminhos heurísticos: a sagacidade (sechel), a fantasia (saudalphon) e a razão lógica (mettatron). Ao substituirmos o pensamento racional, o logos, pela experiência emocional, o pathos , debilitamos a possibilidade da descoberta e da inovação.
Para os cabalistas, o estudo da Letra leva a vislumbrar os desígnios Daquele que é e de nós mesmos como indivíduos e como povo. É improvável que, destreinados, consigamos nos reaproximar da busca do sentido do mundo. Mas, se pretendemos voltar a escrever no livro da vida, o esforço heurístico deve ser no sentido de aproveitamos os celulares, os tablets, os desk e laptops como instrumentos para a sechel e a saludalphon tanto quanto para a mettatron.
UTILIZE E CITE A FONTE.
Melo, Francisco Manuel (1972). Tratado de ciência Cabala. Lisboa. Editorial Estampa.