Ética.
A economia ocidental é uma economia de eficácia competitiva. No entanto, as corporações se declaram como pertencendo ao mundo da conformidade social. A esquizofrenia de pretender integrar duas esferas vitais díspares enfraquece os alicerces da moralidade que deveria sustentar o sistema.
O ethos (conjunto dos valores e hábitos) no âmbito das instituições, das condutas, das ideias e das crenças tem muitas faces. Duas delas são conflitantes.
Na esfera tecno-econômica tem-se o projeto da objetivação da experiência. A dualidade sujeito – objeto é assente de forma que o sujeito possa interpretar, manipular, criar, destruir e reconstruir o objeto. O dispositivo desta esfera é o cálculo que se presta à representação de um universo objetivado.
Na esfera da vida sócio-ética, o objeto e o sujeito são os mesmos: o ser humano. O projeto não pode ser objetivado. Instrumentalizar o ser humano é incorrer em um reducionismo que desdenha os saberes acumulados sobre a liberdade das condutas e as consequências do seu cerceamento.
A razão econômica é operativa. A razão moral é demonstrativa (logos apodeiktikos). Na medida em que o projeto corporativo confunde as duas esferas, instrumentaliza o tratamento das questões éticas, obliterando a visão pluralista da vida.
O antagonismo é insolúvel. É do interesse de todos equacioná-lo. Os escândalos de corrupção e fraude evidenciam que o poder não garante que o seu exercício deixe de se voltar contra quem o detém.