Ética.
A moda da compliance se origina no imperativo de deter a imoralidade fluida e frouxa praticada pelas corporações.
O movimento de conformidade/complacência (o termo admite duas denotações) é um maniqueísmo de botequim. O maniqueísmo verdadeiro jamais foi praticado na forma em que pretende o esforço de compliance.
A seita criada por Mani, na Pérsia, é um sincretismo judaico, zoroástrico e hinduísta. Compreende uma dualidade religiosa, cuja doutrina consiste em afirmar a existência do duelo cósmico entre o Reino da Luz (o bem) e o das Sombras (o mal). A divisão é e rigorosa. A ética mani não tem a crueldade da indeterminação cristã.
Para os maniqueus, o ser humano é essencialmente bom. É um anjo caído, que o Demiurgo Maléfico, criador do mundo, aprisionou na carne pecadora (gr. sárks) que só se emancipará no além-túmulo (gr. sarkophágos).
A teoria moral maniqueísta se funda na contribuição para a vitória da Luz. A prática é ascética. Corresponde ao esforço que cada um exerce sobre si mesmo para se emancipar das Sombras.
O maniqueísmo é inteiramente estranho ao sistema de competição destrutiva da economia de mercado. Concebe a luta pela existência como contínua e sã, não como definidora de poder. No maniqueísmo não há inferiores porque só há protagonistas, e a elevação moral não se dá pelo controle da liberdade alheia.
Jamais teria passado pela cabeça de Mani – um gnóstico douto e benévolo, que foi crucificado pelos Magos – propor uma moralidade complacente e que produzisse resultados materiais.
UTILIZE E CITE A FONTE.
Favre, François (2002) Mani, Christ d'Orient, Bouddha d'Occident. Éditions du Septénaire. Strasbourg. Gruwez, Christine (2010). Devenir contemporain: peut-on métamorphoser le mal? Traduit par Isabelle Ablard-Dupin. Aethera. Ballan-Miré (France).