Trabalho.
Funda a economia de mercado a dupla fantasia de que é preciso adquirir o que nos oferecem e de que a ascensão pessoal se dá pela escalada estamentária. Estas ilusões fazem com que pensemos o trabalho sobre um fundo de causalidade aparente: se não trabalharmos, nada se produzirá, nada teremos, não subsistiremos, voltaremos à vida primitiva. Decorre daí que, inconscientes ou resignados, nos enfileiremos nas carreiras profissionais.
Preferimos esquecer que muitos povos em muitas épocas não conheceram o trabalho na forma como o entendemos. Que o downsize, a supressão das gerências, o regime de metas e o horário flexível não mudam a qualidade da existência. Longe disto. As carreiras, as feitorias, as tarefas programadas, a ductilidade, o online são faces de um sistema imemorial, que subsiste implantado nas consciências.
Poucos conseguem encontrar o caminho que leva a auferir as benesses das sociedades capitalistas ocidentais sem ceder à racionalização conformista. A cinética do capitalismo empresta coerência aos atos, ideias e sentimentos que animam as condutas profissionais. A armadilha que Max Weber denominou de stahlhartes Gehäuse, caixa de aço inoxidável, (e que Parsons traduziu como iron cage) nos encarcera no regime escorado na eficiência teleológica, no cálculo racional e no autocontrole.
A maioria de nós recusa aceitar que a carreira profissional, lenta ou veloz, gira em torno de um eixo fixo. Que a gaiola weberiana é como a do hamster, que se esforça para ir a lugar nenhum.
UTILIZE E CITE A FONTE.
Parsons, Talcott (1960). Structure and process in modern society. Glencoe, Ill. Free Press Weber, Max (195) The protestant ethic and the spirit of capitalism. New York. Charles Scribner’s Sons.