Ética.
Tempos como este que vivemos são propícios aos monomaníacos que tratam de encolher o mundo arrastando os simples para as ideias éticas parasitárias da dissimulação e das fobias.
A imoralidade contemporânea é marcada por duas tendências antagônicas: o menosprezo isolacionista e a depravação fundamentalista.
No isolacionismo somos chamados a aderir ao que quer que seja, mas não a participar da formulação do que quer que seja. A renúncia à discussão é postulada pelas religiões estabelecidas, pelo cientificismo, pelo ocultismo e pelo consórcio burlesco: grupos ideológicos, mídias sociais e manadas têm estruturas similares.
No fundamentalismo somos induzidos a tomar a moralidade como certa e “conforme a natureza”. A regressão à essência mistificada é defendida pelas religiões delirantes, pelas crendices prostituídas, pelo visionarismo de conveniência e pelos consórcios salvacionistas: pessoas, grupos e instituições que não aceitam que existem outras formas de ver o mundo e a moral.
Os isolacionistas e os fundamentalistas de todas as intensidades e orientações encontram em cada objeto, em cada acontecimento apenas a confirmação da própria estreiteza. Defendem com ardor a sua opinião contra toda a evidência e contra as suas próprias dúvidas. Procuram conforto em existir sem pensar, em estar sem ser.