Ética.

Nenhuma punição é efetiva para conter as infrações morais. A lei de Talião, “olho por olho, dente por dente”, não é um ato de justiça, mas de vingança. Os castigos físicos – da palmada infantil à tortura mais cruel -; e as penas de exclusão – do ostracismo ao encarceramento – não redimem e não reparam o mal feito.
A restauração da moralidade poderia se dar pelo binômio arrependimento & perdão. Mas nem um nem outro tem efeito assegurado.
O arrependimento não é uma categoria ética universal. Quando o primeiro ministro japonês se diz arrependido pelo que foi feito no passado, e pede perdão aos coreanos pelos crimes de guerra cometidos, aplica um rito judaico-cristão que não faz sentido na sua cultura. Só os ofensores de fato podem se arrepender. Ninguém pode sentir remorsos pelo que não fez.
É possível que o perdão estanque processos de transgressão ética. É o que se espera das anistias. Mas o efeito do perdão só se verifica a posteriori. Quando o Papa pede perdão aos judeus pelos crimes cometidos pela Igreja, desde a Inquisição até a cumplicidade com o Shoá (o Holocausto), é perfeitamente entendido, ainda que o perdão não possa ser outorgado. Só os ofendidos podem perdoar. E nenhum dos seis milhões de mortos está presente para fazê-lo.
O castigo, o arrependimento e o perdão são anestésicos morais. Desde a Antiguidade, sabemos que a restauração ética deriva unicamente da verdade, da persuasão e do exemplo.