Trabalho.
Muitos de nós gostaríamos de ter de volta a emoção confiante do primeiro emprego. Mas isto não é possível. A memória nos trai, e o ato de trabalhar carreia uma “lembrança do presente”, o recobrimento da percepção do real pelas evocações, a reminiscência que falseia o que ainda está em curso (Bergson).
A lembrança do presente apaga as ideias do futuro e da alma ingênua que as imaginou. Dispõe para aceitação de um mundo ficcional. Faz com que vivamos na ilusão do que poderia ter sido.
Conscientes, abominamos a banalidade do contemporâneo. Adultos, sabemos que nunca fez sentido o Sr. Jetson, os alienígenas trombudos e os humanos de Matrix irem satisfeitos para seus empregos. Rabugentos, adquirimos defesas contra as frustrações das nossas fantasias e do imaginário que nos inculcaram.
Com o tempo, nos tornamos como estas pessoas incômodas, que perguntam de onde vem a música nas cenas cinematográficas, e porque o operador de câmera e o homem de som não socorrem os aflitos isolados ou perdidos em desertos e montanhas dos pseudodocumentários.
Tendo descoberto que a idealização do trabalho não passou de ilusão, de um sonho imposto pelo sistema, é incompreensível que não procuremos inventar uma forma de escapar do vazio assalariado e buscarmos uma maneira de tornar realidade as fantasias do início da vida profissional.
UTILIZE E CITE A FONTE.
Cf. Bergson, Henri (2012) Le souvenir du présent et la fausse reconnaissance. Paris. PUF