Epistemologia.
No livro III de O mundo como vontade e representação, Schopenhauer estabeleceu a diferença entre o talento e o gênio. Talento, escreveu, é quando um atirador acerta um alvo que os outros não conseguem atingir. Gênio é quando um atirador acerta um alvo que os outros não podem ver.
A essência do gênio (do indo-europeu “gen”, produzir), está na atitude que enseja a contemplação, no esquecimento de si e das relações que mantém com o mundo; está na direção objetiva do espírito, que se opõe à direção subjetiva: a da vontade própria.
O gênio é regido pela divindade que preside o nascimento, o Ingeniun. Para quem o possui, sempre já foi (é congênito). A genialidade é uma característica individual, uma espécie de espírito interno, uma aptidão para o invento, que se pode aperfeiçoar, mas que não se pode adquirir nem transmitir.
Em grego, a invenção se diz poiétês. Fernando Pessoa, gênio renitente, durante toda vida esteve assombrado pela cercania entre o a genialidade e a loucura. Consultava psiquiatras. Definia-se como histérico-neurastênico, produto de um “fundo degenerativo”, que, contra sua vontade, o tornava uma célula singular do tecido social.
O dito Indulgere genio ingenio, seguir seus pendores, é o que Schopenhauer e Pessoa (siga seu coração) descrevem como as ideias desvinculadas do princípio de razão. Um fenômeno próximo à loucura, uma faculdade que não pode ser controlada nem entendida por quem a possui.
O talento descobre. O gênio inventa. A genialidade não está só em perceber o que ninguém nunca percebeu, mas em pensar o que ninguém nunca pensou sobre algo que qualquer um poderia ter pensado.
UTILIZE E CITE A FONTE.
Jacquette, Dale (1994). Schopenhauer on the Antipathy of Aesthetic Genius and the Charming. In, History of European Ideas 18 (1994), 373–85. Pessoa, Fernando (1986). Autodiagnose: carta a dois psiquiatras franceses; A imoralidade das biografias; Reflexões sobre o homem de gênio. In, Obra em prosa. Rio de Janeiro. Editora Nova Aguilar S.A. Schopenhauer, Arthur (2005) O Mundo como Vontade e Representação. Trad. Jair Barboza. São Paulo: Unesp. § 36.