Ética.

As lamentações sobre a perda de referencial ético são despropositadas e inócuas. As referências externas – os deuses, o proletariado, o inconsciente coletivo, o povo, o sacro – não se perderam. Caducaram.
Na atualidade, é quase consenso que os paradigmas da filosofia moral não estão fora de nós, mas em nós. A resposta para o sentido ético não depende da dedução nem da revelação, mas da consciência.
Infelizmente não se tem certeza, nem mesmo um assentimento parcial, sobre o que é ou possa vir a ser a consciência.
Wittgenstein deu o exemplo do escaravelho.
Imagine que cada pessoa ganhe ao nascer um estojo com algo dentro, que só nós mesmos podemos ver e saber do que se trata. Em cada estojo individual há um pequeno objeto: uma pedra, um inseto, uma folha e assim por diante. Um ser único e incomparável.
Wittgenstein denomina de escaravelho este conteúdo do nosso e de todos os demais estojos.
O escaravelho é a nossa consciência. À medida em que amadurecemos, conhecemos cada vez melhor o nosso escaravelho. Quanto aos escaravelhos dos outros, supomos que sejam como o nosso, mas, de fato, não sabemos nada sobre eles.
O argumento de Wittgenstein é que não há uma consciência que seja como a outra. Não há um escaravelho genérico, uma consciência em abstrato. Por isto, não existe, nem pode existir, uma fonte, um referencial externo para a ética. Estamos sós, com a nossa consciência. O que podemos fazer é construir um sentido para a vida. E agir de acordo.
UTILIZE E CITE A FONTE.
Cohen, Martin (2010) El escarabajo de Wittgenstein y otros 25 experimentos mentales más. Trad. De Gabriel Arnaiz y Francisco Cerén. Madrid. Alianza editorial. Wittgenstein, Ludwig (2009) Investigações filosóficas. Tradução de Marcos G. Nontagnoli. Petrópolis. Vozes [§ 293]