Trabalho.
Os riscos da obsessão pelo trabalho são conhecidos desde que, em 502 ac., Tales de Mileto caiu no poço enquanto tentava calcular a conjunção elíptica do Sol e da Lua.
Nietzsche, ao se deter sobre o tema, escreveu que estar totalmente absorvido em alguma coisa é um impulso libidinal mais poderoso do que o amor ou o ódio, mais tenaz do que a fé ou a amizade; não raro, mais imperioso do que a própria vida.
O fascínio absorvente de atividades criativas é compreensível. Menos compreensível é o fervor daqueles que copiam e transferem listas burocráticas, escrevem relatórios que jamais serão lidos, fabricam a mesma peça na mesmíssima máquina anos a fio. Gente que vive em êxtase laboral, esperdiçando seus poderes físicos, mentais e nervosos com ninharias.
O trabalhador absoluto é uma personalidade suprimida de si mesma, desinteressada das possíveis aplicações práticas do seu esforço. Da honra, fortuna ou simples bem-estar que possam lhe trazer.
Para o trabalhador incondicional, o corpo, o intelecto, o mundo exterior, a sociedade, a família são estorvos no caminho para alcançar a perfeição na atividade que realizam.
Tal desinteresse é a única dignidade da sua obsessão.
UTILIZE E CITE A FONTE.
Cf. Steiner, George (2012). Tigres no espelho e outros textos da revista The New Yorker. Trad. Denise Bottmann. São Paulo. Globo Nietzsche, Friedrich (2008). Humano, demasiado humano. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo. Cia. das Letras.