Ética.
A ética presume que o ser humano possa escolher entre ações perversas e ações benignas: repousa sobre o arbítrio.
As relações econômicas supõem o ser humano como cumpridor dos seus compromissos laborais sob pena de cair na miséria: repousam sobre o temor da necessidade.
O compromisso entre a ética e a necessidade costuma ser conflitante. A necessidade tende a degradar a ética nas relações de trabalho. As pessoas que obedecem às diretrizes da empresa, mesmo sabendo que o que fazem prejudica a si mesmas e à coletividade, alegam, invariavelmente, terem sido obrigados por dever hierárquico e medo de penúria a agirem contra seus princípios.

Os códigos de conduta organizacionais e profissionais se orientam para o trabalho bem feito, não para o que é feito no trabalho, muito menos para os efeitos do trabalho. O engenheiro da fábrica de armamento se ocupa de que a metralhadora que produz não negue fogo. O químico da indústria de tabaco se ocupa de que o cigarro tenha um sabor agradável para a criança que o experimenta pela primeira vez. O fabricante de trash food está atento para que as embalagens atraiam o consumidor, o jornalista para que a notícia que divulga não balance o status quo e ameace o seu emprego, e assim por diante.
As esperanças de integridade ética no trabalho não se encontram no temor, mas na independência. Na qualificação – os profissionais solicitados pelo mercado não costumam ser forçados a fazer o que não querem -, e na desvinculação – o autônomo tem possibilidades de escapar à indignidade moral negada ao empregado.