Trabalho.
Prometeu amou os homens o bastante para ser capaz de lhes dar o fogo, a liberdade, as técnicas e as artes.
Zeus, que temia que os mortais ficassem tão poderosos quanto os próprios deuses, castigou Prometeu, afinal, um mero titã de segunda ordem.
Acorrentou-o a uma rocha por toda a eternidade, enquanto uma grande águia devora seu fígado, que se regenera permanentemente.
O trabalho arcaico foi o do castigo prometeico. Pertenceu ao regime da desvalorização do esforço produtivo e da valorização do tempo livre. As referências de então ao que hoje entendemos por trabalho são negativas: o grego poenes, alude ao esforço penoso, e o latim labor deriva do verbo labãre, tropeçar sob um fardo.
A percepção positiva do trabalho tem origem tardia. Decorre do pensamento de estoicos e epicuristas, que o entenderam como um dos elementos do “prazer de interditar o desgosto”. Evitar a fome, o desabrigo, o desconforto – tem um sentido prudencial, não hedônico. É como o da dieta, o do exercício, e o do silêncio.
Desde a Idade das Trevas sabemos que vamos morrer. Desde a condenação de Prometeu sabemos que temos que trabalhar. Mas não deveríamos ter esquecido as lições dos Antigos, que ensinaram que não nascemos para desaparecer, mas para gerar uma descendência, e que fomos feitos para a criação e não para estarmos presos à labuta – devorados continuamente pela águia da necessidade.
UTILIZE E CITE A FONTE.
Ésquilo (2013) Prometeu acorrentado. In, O melhor do teatro grego: edição comentada: Prometeu acorrentado, Édipo rei, Medeia, As nuvens. Tradução de Mário da Gama Kury. Rio de Janeiro. Clássicos Zahar Hesíodo (2012) Teogonia. Tradução de Henry Alfred Bugalho. São Paulo. Oficina Editora