Trabalho.
Kant escreveu que a liberdade é pré-requisito para se alcançar a liberdade (1990).
Se a frase parece equívoca, é porque o envolve os dois aspectos da liberdade: a liberdade de e a liberdade para.
Aplicado ao trabalho, o raciocínio esclarece o caminho que vai da autonomia, enquanto condição, à autarquia, enquanto propósito.
A liberdade de corresponde ao trabalho autônomo. Os imperativos da autonomia são categóricos e formais. Não tratam da matéria da ação nem do seu resultado pretendido, mas da forma da ação e do princípio de onde ela dimana (2009). A liberdade de se trabalhar do modo que se quer, que as economias estreitam e controlam, corresponde à emancipação de qualquer dependência, como a do emprego. É uma condição, não um fim.
A liberdade para, que nós, por fraqueza intelectiva e moral, bloqueamos, corresponde à autarquia (autakeia). A liberdade para produzir o que se quer da forma que se quer concerne à emancipação do controle exterior à consciência. É o que Kant descreve como a liberdade do sujeito de legislar sobre si (2008). Nós nos libertamos não do trabalho, mas pelo trabalho. A autarquia é um fim, não uma condição.
Insensato esperar pela outorga da liberdade. A emancipação não depende de aguardar pelo tempo nem em confiar no obséquio alheio, mas de construirmos para nós mesmos uma atitude libertária em relação ao trabalho.
UTILIZE E CITE A FONTE.
Kant, Immanuel (1990). Resposta à pergunta: o que é o iluminismo (1784), in A paz perpétua e outros opúsculos, Lisboa, Edições 70 Kant, Immanuel (2008). O conflito das faculdades (1798). Tradução Artur Morão. Covilhã. Universidade da Beira Interior. Kant, Immanuel (2009). Fundamentação da metafísica dos costumes (1786). Tradução nova com introdução e notas por Guido Antônio de Almeida. São Paulo. Discurso Editorial e Barcarolla