Trabalho.
Quinta tese sobre a perda da centralidade do trabalho – o sucedâneo digital.

Em muitas esferas, coexistimos com o futuro e com o passado. Convivemos com sobrevivências que não são memórias, mas arcaísmos. Convivemos com realidades que não são latências, mas antecipações.
No trabalho contemporâneo, a vizinhança entre o que fenece e o que surge é dramática. Ou trágica. É preciso adquirir saberes que não se destinam a esclarecer, mas a ordenar a conduta. Não há esclarecimento e acumulação, porque a meia vida dos conhecimentos úteis é ínfima.
O trabalhador digital se vê ratificado como mercadoria. Não só ele, mas todos os humanos, incluindo os por nascer, as crianças, os velhos e os mortos. Desde os serviços pré-natais até o congelamento para a ressurreição, tudo tem uma marca, tudo tem um preço, tudo deve ser processado, tudo deve ser consumido.
O movimento é autofágico. O que se aprende é destituído pela produtividade marginal que gera. O trabalhador deixou de ser o detentor de um saber. Tornou-se um digestor de informações. A obstinação, e não mais a destreza, está no cerne dos perfis requeridos. A atenção sobre o operador humano cada vez mais se torna onerosa, infrutífera e dispensável.