Epistemologia – Heurística.
Foucault utilizou a palavra grega épistémè (entendimento) para significar as relações que conectam os diferentes tipos de discurso em uma situação espaço-temporal.
A episteme é um mosaico que conforma uma totalidade, como os pixels conformam uma imagem. Discrimina o modo de perceber, de conceituar, de definir e de agrupar os elementos de um meio cultural dado. Estabelece um corpo de prescrições cuja função é vigiar os desvios dos paradigmas tidos como verdadeiros.
A análise das epistemes rompe com o dogma da identificação de problemas. Entende que quando nos referimos ao problema moral, ou ao problema do trabalho ou de qualquer outro objeto, incorremos em uma petição de princípio: a de que a ética, o trabalho, ou qualquer objeto são dificuldades, antes de serem temas de reflexão.
As análises tradicionais abordam o objeto sócio-humano problematicamente; como algo que deve ser resolvido; isto é, que deve ter uma solução na forma matemática, mas, também, na forma em que os nazistas falavam do “problema judaico” e que hoje o Ocidente fala do “problema muçulmano”.
A abordagem prescrita por Michel Foucault abandona a interrogação sobre o conteúdo do objeto; desmonta a estrutura de normas de relacionamento entre elementos dos discursos; concentra-se no entendimento da constituição do seu significado.
O valor heurístico da análise das epistemes está em observar os interstícios da narrativa, em abrir-se para além da constatação e da hermenêutica, em trazer à luz (ou em inventar) a chave que poderá rescindir o quadro das inadequações sociais persistentes.
UTILIZE E CITE A FONTE.
Foucault, Michel (2007). As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. Tradução de Salma Tannus Muchail. São Paulo. Martins Fontes.