Ética.

A separação que fazemos entre o que é natural e o que é cultural corresponde a uma forma de ver minoritária na história e no mundo.
A constatação é de Philippe Descola, etnólogo francês, que comparou interculturalmente os padrões integrantes da prática social: a identificação, a relação e a figuração.
Descola verificou que os dispositivos de clivagem são diversos, não só para os povos primitivos, mas entre todas as culturas das quais se tem notícia. A diferenciação entre o humano e não humano, entre moral e imoral, entre público e privado, entre individual e social não são as mesmas para animistas, para totemistas, para teístas, para os povos da Ásia, para a cristandade, como não são, ou deixaram de ser, para o Islã.
A sociedade ocidental foi a única a produzir uma representação do mundo biunívoca, uma oposição excludente entre natureza e cultura. Este traço decorre de uma história particular e explica a dificuldade que temos de compreender as demais culturas.
Por isto, necessitamos de empenho para entender não só as moralidades, mas as ideologias, as formações econômicas, as leis e os demais elementos dos povos em que o espírito, a impressão, o incomensurável prevalecem sobre a matéria, o conceito, o fato.
Mesmo internamente, aquilo que tomávamos por normal e ético há apenas alguns anos já não o podemos tomar. Não só porque as sociedades se modificam, evoluem e se interpenetram, mas porque o que se pode empiricamente predicar dos valores morais se restringe à hierarquia e o que se pode predicar das condutas se limita à frequência.
UTILIZE E CITE A FONTE.
Descolas, [Philippe (2005). Par-delà nature et culture. Paris. Gallimard]