Trabalho.
O termo anarquismo, do grego anarkhía,as , ausência de chefe, diz respeito a uma índole, a um ideal e a uma ideologia.
Como índole, refere ao caráter de um indivíduo ou de um povo para quem toda submissão hierárquica é abominável. O anarquismo é um temperamento.
Como ideal, alude à imagem de uma existência comunitária em que inexista a dominação de um ser humano sobre outro. O anarquismo é uma aspiração.
Como ideologia, corresponde à meta de se chegar a uma acracia, um sistema político sem Estado e sem segmento socioeconômico dominador. O anarquismo é um projeto.
Os anarquistas ou bem aguardam, ou bem lutam pelo advento do terceiro ciclo da emancipação laboral. O primeiro ciclo fez dos escravos servos; o segundo, dos servos assalariados; o terceiro colocará o controle da produção nas mãos de associações livres e voluntárias de cidadãos-trabalhadores.
O ideário anarquista é utópico, mas no sentido que Merton dá ao termo: o de um programa alternativo de organização social capaz de realizar potencialidades humanas concretas.
A esperança do anarquismo contemporâneo é a de que, à medida que a sociedade industrial seja substituída pela sociedade digital, se torne possível uma abertura para a efetivação de vários dos seus desígnios.
A perspectiva não é descabida. As redes abrem a possibilidade de associações temporárias para fins específicos. Não só valem para informar e para protestar, como servem para produzir. A economia cooperativa é exemplo de estrutura libertária que já vige. A difusão de informações em grande escala, contra toda resistência, amplia o acesso ao conhecimento, e abre a possibilidade de os trabalhadores se tornem senhores dos seus próprios e imediatos interesses.
A sociedade, e com ela o trabalho, parece estar evoluindo para o ideal libertário anarquista. O dinamismo desta progressão é reprimido pelas instituições degeneradas do Estado e do capitalismo.
UTILIZE E CITE A FONTE.
Buber, Martin (2006) Caminos en utopía. Traducción J. Rovira Armengol. México. Fondo de Cultura Económica Merton, Robert K. – Craig Calhoun ed. (2010). Sociology of science and sociology as science. New York. Columbia University Press