Trabalho.
É possível que algum dia você seja demitido. Ou talvez você se demita. Como quer que seja, você deve supor, constante e disciplinadamente, o advento de uma desvinculação dolorosa.
Nietzsche retratou o Estado como o mais frio dos monstros frios. A descrição se aplica à quase totalidade das organizações. Por isso, procure ser tão frio quanto elas. Não espere nada, nem mesmo a consideração dos dirigentes.
Os executivos contemporâneos são diferentes do feitor que compelia à produção pelo látego nas costas. São gente civilizada. Incitam ao trabalho pela manipulação da espera. Primeiro incutem a esperança do que a organização pode dar. Depois, o terror, raso e obscuro, do que poderá não acontecer: não progredir, não ser considerado, não ser respeitado, não permanecer.
O afeto e a mágoa são sentimentos comuns e justificáveis no mundo do trabalho. Fuja deles. Não amar e não odiar são os antídotos eficazes contra a ansiedade e a perda. Cultive a insensibilidade. Lembre-se que o recrutador, o selecionador, o gestor trabalham sob a consciência do perecível. Eles também estão lutando para serem necessários. Estão próximos demais da realidade para não a sentirem.
A aquisição da indiferença requer atenção e um longo treinamento. Procure não amar seu emprego, não amar seu posto de trabalho, sobretudo procure não amar a sua organização. Ela não é sua, mesmo que você seja o proprietário. As organizações são entes jurídicos ficcionais. Não são nossas, nós é que somos delas. Se nos deixamos ser.
UTILIZE E CITE A FONTE.
Nietzsche, Friedrich (2014). Assim falava Zaratustra: Um livro para todos e para ninguém. Tradução de Mário Ferreira dos Santos. Petrópolis. Vozes.