Ética.
A insegurança constante e o transtorno contínuo distinguem a época burguesa de todas as precedentes.
Até o século XVIII, a ideia de progresso foi a de um desenvolvimento gradativo, baseado nos valores da prudência e da virtú e no equilíbrio entre paciência e impaciência, característicos da formação clássica e humanista. Com a Revolução Industrial, o equilíbrio passou a ser visto como não progressivo, como indutor da “perenização do status quo“. As relações sociais, com seu cortejo de ideias antigas e veneráveis, se dissolveram. Os costumes e as instituições passaram a estiolarem antes que se cristalizassem. No advento da burguesia, tudo o que era sólido se desmanchou no ar (1966).
O verbo no tempo passado, a bem da verdade, não é adequado. O processo não cessou, nem a história chegou ao fim. Em monótona insistência, segue-se fazendo da exploração e do desiquilíbrio o motor da economia. Continua-se sacrificando o bem-estar em favor do progresso, a sociedade em favor da individualidade, a massa trabalhadora em favor das elites econômicas.
Marx deixou escrito que a burguesia só pode existir revolucionando constantemente os instrumentos e as relações de produção (1982). Daí que o seu ativismo tenha sido orientado a quebrar esta pertinácia. Fundava-se, acima de tudo, em um imperativo ético: o de “derrubar todas as condições sociais em que o homem é rebaixado, submetido, abandonado, desprezível” (1998).
A intenção era moralmente sublime. Quanto à posta em prática, o tempo passado da verbo não é fortuito.