Perplexidades.
Os Gregos estudaram, nomearam e definiram separadamente a inclinação natural, o ágape, a mania, a compaixão, a amizade, a paixão, o desejo e a inclinação espiritual.
Denominaram stergo o apego natural, que inclui o amor protetor entre pai e filho, entre avô e neto, e as inclinações corporativas e comunitárias, como o patriotismo e o espirito de grupo. Também incluíram no stergo as afeições individuais, como o amor ao trabalho.
Ao, agapê, atribuíram a estima pelas coisas agradáveis, como a boa mesa e o convívio. Integravam o ágape a dedicação desinteressada entre as divindades e os seres humanos e destes pela humanidade em geral. Um sentimento que o cristianismo traduziu como caritas.
Consideraram a manía um estado de excitação psíquica, que abarcava o presságio, a direção carismática do Estado e a atração pela poesia, pelos esportes, por coleções, pela natureza, …
Chamaram de sumpátheia a participação no sofrimento de outrem, a comunidade de sentimento, como a compaixão.
A philía, que os romanos traduziram por amicitia, tinha, para os gregos, o sentido da igualdade (isótes), que corresponde à afeição recíproca, como a do bem-querer fraternal. A amizade deveria obedecer à três critérios: a benevolência mútua, o desejo da felicidade do outro e a manifestação exterior dos sentimentos.
Aos apetites doentios, páthos, latim passio, affectio e perturbatio, atribuíram o sofrimento por alguém ou por algo, como a dor do apaixonado, mas, também, a negação de si, como a do apático, e a comoção, como a do patético.
Entenderam o desejo, epithymia como o apetite irracional da alma. Os romanos o confundiram com o eros, o movimento da alma em direção a um objeto fosse, abstrato, como o belo, ou material, como o corpo. Por isso, traduziram a epithymia por libido e por cupiditas, mesclando o que as denominações gregas separavam em pandemos eros, a inclinação sexual eletiva e o desejo assexuado: ouránios eros. Esse último denotava a inclinação espiritual por outra pessoa no desejo de ascender aos céus (Ouranós). Explicavam que Urano, a quem Zeus havia privado dos órgãos sexuais atirando-os ao mar, gerou, indiretamente, Afrodite, a mulher deificada que surge da espuma [aphros] das ondas.
Como era do seu feitio, os Gregos buscaram encontrar a essência das muitas formas do afeto. Logo verificaram a impossibilidade de unificar seu estatuto ontológico.
Como era do seu feitio, os Romanos tomaram estas figuras para as integrar em um conceito único, o do amor. Ao cabo, depuseram suas pretensões.
Como é do nosso feito, embaralhamos tudo. No Ocidente cristão insistimos em dimensionar o que não tem tamanho, nem nunca terá.
Muito bom!
CurtirCurtir