Trabalho.
Camus mostrou que a existência de quem realiza as mesmas tarefas todos os dias se torna trágica somente nas raras ocasiões em que o trabalhador tem consciência do seu destino.
Os trabalhadores comuns são pessoas como Sísifo, que condenado a fazer subir uma enorme rocha até o alto de uma montanha, deixá-la rolar até a base e recomeçar indefinidamente, encontram cabimento na sua tarefa.
Este sentido de validade, que é do burocrata, do operário, do serviçal, reside na certeza de que o seu destino lhe pertence e no sentimento de que seu trabalho é o seu habitat, como a rocha é para Sísifo sua casa.
Reside, depois, na posse dos seus dias. Aquele que se encaminha reiteradamente ao serviço costumeiro, tal como Sísifo ao regressar para o vale em busca da rocha, dispõe do tempo sutil em que medita sobre a vida.
O trabalhador ordinário se sente seguro ao saber que subirá e descerá a montanha. Que, até sua morte, irá e virá do trabalho.
A pedra que carrega rolará eternamente, mas a sequência de tarefas que executa não requer a sua presença efetiva, só a mecânica.
Isto basta para encher seu coração. Isto é suficiente para justificar sua existência.