Trabalho.
Muito antes da neurociência o ter demonstrado, Jon Elster, professor emérito da Universidade de Columbia e do Collège de France, havia assinalado que o ser humano “racional e interessado” é uma figura imaginária, produzida pelo Iluminismo.
Apesar disso, é na intenção deste ser ficcional que continuam a se dirigir os esforços de motivação para o trabalho. Persiste a prática porque os truques de catequese funcionam por algum tempo. Ou parecem funcionar, já que a farsa e a hipocrisia são parte do instrumental de sobrevivência no emprego.
No polo oposto aos esforços para motivar, os esforços para mobilizar se concentram na elevação do espírito e na segurança proporcionada pelo trabalho. Não buscam o aliciamento, mas conscientização. É por tomar o ser humano como irracional e desinteressado que a mobilização obtém resultados mais sólidos e consistentes do que a motivação. Mas quase não se pratica.
Explica-se: a mobilização requer clareza de propósitos, convicção do agente mobilizador, conhecimento da realidade psicossocial em que se atua, poder de persuasão e capacidade de inspirar.
Infelizmente, as pessoas com estas faculdades são raras, e os processos de mobilização para o trabalho caros e lentos. Daí que sejam relegados em favor das artimanhas da motivação ou, o que é pior, dos procedimentos de feitoria castrense, que desde sempre marcam a indução pelo terror.