Epistemologia – Heurística.
Dentre as bandeiras teóricas que se ocupam da proveniência do ato heurístico podem-se distinguir três convicções: i) a de um automatismo, ii) a de estratégias e, iii) a de uma combinação entre essas duas possibilidades.
A corrente do automatismo considera que as descobertas e as invenções ocorrem na ausência de desígnio deliberado. O viés desta forma de pensar é omitir que a expertise e a vivência são âncoras nos julgamentos. O ato maquinal não elimina zonas de impensáveis, de horizontes e objetos bloqueados à compreensão intelectual.
A corrente que liga o ato heurístico a estratégias argumenta que as pessoas utilizam expedientes para simplificar o processo de julgamento – proximidades, semelhanças, interpolações,… O viés desta tradição é desconsiderar que os sujeitos das pesquisas declaram o que pensam, não a fonte do que pensam. O mais das vezes se trata da “miséria cognitiva”: a crença que tem o agente de que sabe algo, quando o que possui é a familiaridade e não o conhecimento.
Uma vez que não se pode pedir ou incentivar a respondentes leigos que descrevam suas faculdades cognitivas enquanto as exercem, não é possível declarar cientificamente o automatismo ou as estratégias como fonte dos atos heurísticos. No entanto, a composição das duas perspectivas é consistente com a ideia de uma experiência rápida e automática que pode ou não ser substituída e corrigida por estratégias de ajuste.
O déficit explanatório das neurociências recomenda que se credite espaço a este último entendimento.
Fiske, Susan T. Shelley & Taylor, E. (2013). Social cognition: from brains to culture. London. SAGE Publications.
Tversky, A., & Kahneman, D. (1983). Extensional versus intuitive reasoning: The conjunction fallacy in probability judgment. In Psychological Review, 90(4), 293-315.