Ética.
O ser humano tende à obstinação ante ao impossível. Seja procurando encontrar a fonte da juventude eterna, seja cogitando sobre como desfazer a maionese, seja tentando unificar os fundamentos morais, queremos o que não se pode ter.
Embora saibam ser absurda a ideia da fusão de escolas filosóficas, muitos teimam em integrar as lógicas das éticas formal-procedural (inspiradas em Kant) e substantivas-tecnológicas (inspiradas em Aristóteles).
Nas primeiras, as exigências se prendem à imparcialidade, o que leva à postulação de princípios universais. Mas estas formas de pensar não são suscetíveis de traslado à realidade moral. Por isso, dão a sensação de negligência para com o dever. Terminam por gerar culpa e remorso.
Nas éticas substantivas-tecnológicas as exigências morais se dirigem à busca de uma vida virtuosa, isto é racional. Como não se pode manter para sempre uma conduta inequívoca, essa linha de pensamento acaba por gerar desprezo e rebeldia, inclusive em relação a si mesma.
Ainda assim, subsiste a tendência, aparentemente irrefreável, de procurar a solução dessas contradições mediante a fusão dos quatro paradigmas que regem a filosofia moral contemporânea: o analítico, o fenomenológico, o hermenêutico e o da ação comunicativa.
A inviabilidade da empreitada é patente. A filosofia analítica trata o sujeito moral como estando isolado e destacado da sociedade. A fenomenologia requer a internalização do Outro como si mesmo. A hermenêutica analisa as relações morais, mas não as soluções para os conflitos. Por último, a ética da comunicação propõe o impraticável: que seres humanos sinceros, dispondo das mesmas informações, capacidades e vontade de encontrar a solução mais vantajosa para cada um e para todos, se expressem autenticamente em um debate público, onde cada um tomaria a palavra e ouviria atentamente os argumentos dos demais.
O pluralismo ético, o convívio sem o consenso, sugere pacificar a dissenção entre esses paradigmas mediante a coabitação justaposta.
Ao postular a transigência em lugar da homogenia, o pluralismo abre-se para o reconhecimento do diferente como diferente. Como não parece ser possível a coabitação sem normativas, incorpora como dever moral unicamente o respeito às convicções alheias, a lealdade nas relações humanas, a inclusão dos marginalizados e o cuidado para com os desvalidos.
Cf. Honneth, Axel (1995). The fragmented world of the social. New York. Suny Press.
Republicou isso em REBLOGADOR.
CurtirCurtir