Heurística
As invenções e as descobertas são guiadas por representações não observáveis ou mensuráveis: as chamadas “variáveis ocultas”.
Esses elementos furtivos são similares às intenções e aos valores. Têm existência, mas não podem ser materialmente identificados. Acresce à impossibilidade da discriminação o fato de que o ser humano pode decidir agir e não efetivar o ato. Do mesmo modo que decide encostar a mão em uma superfície, e, instintivamente, a retira ante à sensação de calor, pode, não se sabe ao certo porque, deixar de registrar na mente o que descobriu ou inventou.
Às variáveis ocultas e aos registros incertos se somam as particularidades do tempo psíquico, que fazem com que seja possível a simultaneidade entre a tomada de consciência e a decisão de registrar (ou não) o invento e a descoberta. Se a decisão se encontra à montante da ação, a invenção e a descoberta deveriam se encontrar a jusante da decisão. Mas não sabemos se é assim.
Por isso, a neurociência não avançou além de documentar o que se passa ao se tomar consciência de algo. Esses dados nada informam sobre o tempo e o lugar do ato heurístico. Como uma centelha que só vemos depois de emitida, o instante de descoberta e da invenção não tem genealogia certa e sabida.
Ciaunica, Anna (2017). Qu’est-ce que la conscience. Paris. Libraire Philosophique J. Vrin
Gilovich, Tomas & Dale Griffin (2009). Introduction: heuristics and biases, then and now. In, Gilovich, Thomas; Dale W. Griffin, Daniel Kahneman (eds.) Heuristics and biases: the psychology of intuitive judgement. New York. Cambridge University Press.