Trabalho.

A insensatez anarco-sindicalista, o delírio do marxismo-leninismo e a brutalidade neoliberal foram as três fúrias ideológicas que assombraram o trabalho no século que passou.
Os adeptos do anarcossindicalismo lutaram em prol do livre-contrato entre os poderosos e os seus vassalos famintos. Por alguma razão inexplicável, acreditaram, e alguns ainda acreditam, que os poderosos aceitariam serem sobrepujados sem resistência e sem impor uma revanche cruel.
Os adeptos do marxismo-leninismo postularam, para que houvesse equidade econômica, que um partido de vanguarda deveria assumir o poder de Estado e dirigir a população com mão de ferro. Por alguma razão inexplicável, acreditaram, e alguns ainda acreditam, que uma ditadura auto assumida resultaria em justiça laboral.
Os adeptos do liberalismo econômico lutaram para que o trabalho fosse regido desde centros de controle que tratassem o ser humano como mero recurso produtivo. Por alguma razão inexplicável, acreditaram e muitos ainda acreditam, que o trabalho vinculado, forçado e sem sentido pudesse preencher a vida psíquica e social dos seus semelhantes.
Estas ideologias não encontram razão seja na lógica, seja na história. A elas se contrapôs, minoritária, mas determinada, a convicção anarquista. Por muitas e explicáveis razões, os anarquistas acreditaram, e teimam em acreditar, que o trabalho pode progredir de instância destinada unicamente à satisfação das necessidades materiais para uma atividade orientada no sentido da realização dos valores humanos.
O é, efetivamente, utópico. Mas não é risível. Sua prática centra-se no combate à autoridade injustificada. Difere, por isto, das doutrinas do anarcossindicalismo, do marxismo-leninismo e do neoliberalismo econômico, que propõem modelos baseados na opressão, na repressão e na exploração.
O cuidado anarquista é com os extremos: com o trabalhador que não alcança satisfazer o mínimo das necessidades materiais e espirituais e com a contenção da patologia que acomete os que se propõem a acumular riquezas e a alcançar o poder à custa de outros seres humanos.
A estratégia anarquista não é a de propor regimes alternativos, mas a de expandir a área da cárcere até que todos possamos escapar por entre as grades.