Ética.

Não há tradução satisfatória para a voz grega ethos, ethe. O termo significa tanto o caráter, como os princípios aceitos por uma sociedade, um povo, ou uma pessoa. Denota simultaneamente a ética, a moral e a consciência.
O ethos racionalmente fundamentado, a ética, é a instância legitimadora das condutas sociais. Difere do ethos dos costumes, que corresponde à moralidade, à expressão comunitária. Já o ethos enquanto consciência é “o demônio interior do ser humano”, conforme consta de um fragmento de Heráclito, o de número 119.
Apesar da dispersão de sentidos, os filósofos moralistas pretenderam que se administrasse a vida social como se administra um almoxarifado repleto de soluções postas em prateleiras. Mas, na época da comunicação instantânea, as prateleiras se esvaziaram, e o embate entre os ethe racional, o costumeiro e o pessoal veio à luz.
Os três ethe são distintos e muitas vezes são antagônicos. Nem a psique é solúvel na razão, nem a razão nos costumes, nem os costumes na psique. São como o azeite, vinagre e o emoliente que os mesclam. Só se entrelaçam transitoriamente pelo esforço aplicado.
Com a ruína dos princípios da razão única, após o advento da psicanalise, da antropologia empírica e das ciências socioeconômicas, muitos aderiram às várias modalidades de relativismo, de ceticismo, ou de sincretismo moral. Recusaram a evidência de que toda fusão dos ethe, não importa o artificio que a fundamenta, é ilusória e ficcional.
Os que ainda se opõem, por razões acadêmicas, psicológicas ou bizantinas a admitir a falência dos sistemas morais esquecem que a ética, as emoções e a tradição têm em comum serem simples acervos do pensado e do vivido. Condição que recomenda o pluralismo – a coexistência sem amalgama – como resposta possível à insolubilidade do ethos da razão, do costume e da personalidade.
UTILIZE E CITE A FONTE.
CHERQUES, Hermano Roberto Thiry, 2020 – Pluralismo – os ethe insolúveis. – A Ponte: pensar o trabalho, o trabalho de pensar – https://hermanoprojetos.com/2020/10/28/pluralismo-os-ethe-insoluveis/
REFERÊNCIAS:
Heraclito (1982). Fragmentos; Tradução de Luis Farre; Buenos Aires; Aguilar Argentina S.A. de Ediciones. frg. 119.
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