Ética.
A autonomia da consciência moral deve ser protegida de fontes externas que a possam corromper, sejam essas fontes as divindades, os afetos ou uma suposta natureza humana.
A moral se firma na prática da harmonização da coexistência. A ética aspira ao convívio segundo a razão. Entra na vida cotidiana em um segundo plano: o da solução de dilemas. Por exemplo: acredita-se que se deve fazer o bem aos outros e, simultaneamente, acredita-se que se deve respeitar a vontade alheia. É serviço da ética responder o que deve prevalecer, a bondade ou o respeito.
A moral se exercita. A ética se problematiza. Ninguém pode contestar a utilidade de um sistema de cooperação dirigido ao interesse de todos, incluindo os mais fracos e os desconhecidos. Mas qualquer um pode, e deve, discutir o fundamento que dá sustentação ao tipo de interesse e ao perfil dos beneficiários dessa utilidade. O que deve predominar: o aqui e agora ou o lá e depois? a vontade da maioria ou a dos mais sábios? a economia ou a vida?
No plano mais amplo da pacificação do convívio, a moralidade contemporânea julga ser necessária uma contenção social e, simultaneamente, julga que se deve respeitar as individualidades. É obrigação da ética validar ou invalidar essas crenças ou, se possível, as compatibilizar. Encargo a que sempre se subtraiu. Não tendo a que nem a quem transferir a responsabilidade, a consciência moral segue respondendo a si mesma. Pelo menos nesse mundo.