Ética.
Supor que nascemos iguais é imoral. Implica em arbitrariedade e ablação.
Os gregos, observou Nietzsche, não compreenderiam a crença da isonomia absoluta entre pessoas e grupos. Pensavam que devemos tratar todos com brandura e tolerância, mas que não podemos esquecer que nascemos diferentes. Acreditavam que da mesma forma que não há mérito na beleza física, nem demérito na feiura, a inteligência, o talento, a boa índole e seus opostos são fruto do acaso.
No final do século passado, John Rawls chamou a atenção para que os princípios de justiça são os acordos mais profundamente enraizados na política. Era verdade, e continua sendo. Mas Rawls parece não ter se dado conta da anterioridade da tradição. De que os critérios de justiça distributiva e os critérios de justiça comutativa são produtos de um meio específico e de convicções próprias da cultura Ocidental.
Assinalar esse fato não significa consentir com o abjeto. Trata-se apenas de praticar uma intolerância contra a repressão que decorre dos costumes. É como o anarquismo sadio, que “levanta a sua mão” contra a hierarquia eclesiástica, mas não contra a divindade, e que se insurge contra os desmandos dos Estados e das corporações, mas não contra a estrutura social.
Também o pluralismo assenta na convicção de que as “raison d’étad” e as razões corporativas são um pastiche do direito divino dos reis. Que nem as igrejas, nem os estados, nem as corporações – institutos artificiais que são – têm legitimidade para determinar o arquétipo da consciência dos seres humanos, colocando-se acima das pessoas e das comunidades.