Epistemologia
“Eu acho porque acho; os argumentos eu arranjo depois”.
A sentença, de Millôr Fernandes, traduz bem as alegações que procuram justificar a transposição dos métodos das ciências da natureza para as ciências psicossociais. Uma bizarrice que não encontra apoio na razão, vez que as perguntas formuladas pelos dois campos são diversas. A questão da natureza – “como alguma coisa se torna alguma coisa?” -, é inteiramente distinta do problema da vida social: “como alguma coisa vale alguma coisa?”.
“A tentação de formar teorias prematuras sobre dados insuficientes é o veneno da nossa profissão”.
A sentença, essa de Sherlock Holmes, tal como frase a do Millôr, se aplica à variedade dos procedimentos epistemológicos no campo sócio humano. Métodos cognitivos obsoletos, que não consideram que há muito a ciência deixou de arguir como se chega a uma conclusão; que a ciência se interessa sobre o ponto de partida para se entender um campo, um tema, um objeto.
Ao recusar levar em conta o isolado, o díspar e o singular; ao se dirigir à irrealidade de um mundo coerente e mensurável, a produção acadêmica dos saberes sócio humanos assumiu o estilo adulatório, afetado e frívolo que aí está. Oscila alegremente no ritmo e nas cores de uma moda finada há dois séculos. A Rococó.