Epistemologia.
Os Gregos acreditavam que o olhar produzia um “raio de fogo”, uma luz que captava as imagens. A convicção era tão arraigada, que Aristóteles, sábio e médico, “viu” e descreveu como o olhar das mulheres menstruadas deixava uma névoa cor de sangue nos espelhos. Uma nódoa que enfeitiçava qualquer pessoa que a mirasse.
Mas nem tudo era superstição ou ignorância. Os Antigos também notaram que a visão difere de indivíduo para indivíduo. Daí que duas pessoas olhando para a mesma coisa não enxergassem cenas idênticas. A prova é a necessidade milenar de confirmação: você está vendo o que eu estou vendo?
Na medida que se opunha à métrica e ao argumento, o olhar tinha um sentido e um campo de conhecimento pessoal e fluido, que hoje denominamos de intuição. A psicologia e a antropologia confirmam que o raio de fogo pode não existir, mas a intuição, de fato, existe. Antecede e exclui o conceito (Bergson). Pressentimos que alguém nos olha. Adivinhamos o ponto de regulagem de um mecanismo, bem como ajuizamos a índole de um interlocutor.
Mas a intuição é incerta. Podemos deduzir padrões que não existem e negligenciar os existentes, corrompida que é nossa mente pelas vivências pessoais e pela cultura em que estamos imersos.
Duvidosa que seja, a intuição é inestimável porque nos faz entender sem que saibamos como. Daí a aspiração dos pensadores, tanto antigos como contemporâneos: desenvolver a capacidade de ver o que ninguém viu, ampliar a capacidade de intuir.
Um sonho até hoje frustrado. Somente se alcançou consenso sobre dois pontos: 1) a intuição tem um modo negativo: nega o evidente e a certeza, e 2) a intuição tem um modo positivo: gera uma luz que permite ver para além do que seria de esperar. Como queriam os Gregos.