Ética.
O relativismo ético padece de uma contradição fatal. Diz que cada cultura tem a sua própria moralidade e que devemos aceitá-la. Mas não é capaz de determinar os limites do domínio a que se refere.
Para se legitimar, o relativismo teria que primeiro estatuir uma distinção entre o grupo identitário amplo – a sociedade -, e o grupo identitário restrito – a comunidade. Depois, considerar que, mesmo nesse caldo cultural limitado, vários cortes podem seccionar coletividades menores. Os da etnia e os da tradição, são os mais visíveis.
Em seguida teria que distinguir entre os grupos de pertinência e de prestigio. De um lado as congregações às quais as pessoas se filiam involuntária e desinteressadamente, que compreendem a família, os amigos, os colegas e suas extensões, como o clã. De outro, aquelas com os quais as pessoas se identificam ou a que aspiram pertencer por serem revestidas da aura de status, como a da classe econômica, a das profissões, etc. Esses grupos contrastam, se afastam, se justapõem e se superpõem.
Não sendo possível harmonizar noções morais entre consórcios humanos de origem, tradição, intensidade e hierarquia interna diferente – você é primeiro brasileira, militar, carioca, mulher, flamengo, classe média ou católica? – o relativismo caí por déficit de aplicabilidade prática.
Desse desencontro incontornável se origina o ideal pluralista que, ao defender o respeito aos indivíduos e a proteção dos mais fracos de qualquer agregado humano, pode, sem contradição, ser universalizado.