Trabalho.
Um grupo interdisciplinar do RGCS francês elaborou projeções de como seria o trabalho daqui a 10 anos. Considerou diversos arranjos de fatores tecnológicos, culturais, emocionais, econômicos para descrever quatro possíveis “atmosferas”: assalariamento, freelancing, hibridismo e solidarismo.
A modalidade “assalariamento” configura uma sociedade em que o trabalho é ordenado legalmente, exacerbando o que já ocorre em países como o Brasil. Nesse cenário, a atmosfera torna-se cada vez mais rígida, situada e enraizada.
A modalidade “freelancing” refere a uma sociedade de trabalhadores autônomos, ligados por plataformas globais. Nessa projeção, a atmosfera torna-se individualmente tensa e socialmente líquida, no sentido descrito por Zygmunt Bauman.
O “hibridismo” descreve uma sociedade em que prevalece o trabalho multitarefas. Cada pessoa teria vários empregos temporários e trabalharia, também, como autônomo. Nessa projeção, a sociedade se torna frenética. A atmosfera beira um tipo de esquizofrenia em que o pensamento é dissociado da atividade.
A forma “solidária”, de renda universal, projeta uma sociedade em que o trabalho é governado mais pela significação do que pela remuneração. Os vínculos institucionais permanecem, mas contra um pano de fundo de compartilhamento. Nesse possível futuro, a atmosfera é caracterizada pelo desenvolvimento social e realização pessoal.
Os cenários e atmosferas podem ser combinados, o que os aproxima da indeterminação consistente com uma projeção para daqui a 10 anos.
Explica-se: os autores não pretendem ter uma bola de cristal, muito menos indicar utopias ou distopias. O que os anima e justifica é uma razão maior do que alimentar a contenda sobre o destino do trabalho. É a de nos preparar para a inserção nesses futuros ou, então, de nos abrir os olhos para que nos empenhemos para que uma modalidade próxima à solidária venha a prevalecer.