Ética.
A raiz latina tol, denota o esforço que fazemos sobre nós mesmos. Tolerar é suportar o peso do malquerido, do inconveniente e do rejeitável. É aturar opiniões, condutas, traços pessoais e crenças julgadas desagradáveis, equivocadas, falsas ou inferiores.
Na Antiguidade greco-romana, principalmente entre os estoicos, significou aguentar tudo que fosse uma carga para o corpo e para a mente. Expressava a força requerida para enfrentar os elementos naturais, as doenças e as adversidades da vida.
O cristianismo nascente entendeu a tolerantia como o autodomínio requerido à sublimação das dores da existência na terra. Era um dos sinônimos da patientia. Uma virtude íntima.
Com os padres da Igreja, notadamente com Sto. Agostinho, passou a ter uma acepção coletiva: a do autocontrole ao lidar com os maus, com os imorais.
Por volta de 1150, o direito canônico havia avançado à ponto de contemplar situações em que o mal não deveria ser punido. Pregava a transigência com a iniquidade secular, o que não quer dizer uma aprovação (Ecclesia non approbat, sed permittit). Considerava, também, a prevenção de um mal maior (Minus malun toleratur ut maius tollatur).
Do Renascimento em diante, a tolerância foi emprega nas estratégias destinadas a contornar problemas para os quais não se têm remédio, como o da prostituição, ou para ordenar o convívio com grupos irredutíveis à lei canônica, como os judeus e os muçulmanos.
Podemos acompanhar o conceito desde a brandura com a “impiedade” dos incréus da polis grega, passando pela contemporização política com os que se insurgiam contra os césares-divinos de Roma e pela misericórdia com os hereges cristãos até chegarmos à permissividade contemporânea.
Em tempo algum se propôs tolerar o que é bom e igual.
Toleramos, ou dizemos tolerar ou, ainda, pregamos que se tolere o que é mau, o que é diferente. Toleramos por conveniência e por princípio ético. Tardamos no processo civilizatório, que progride no sentido da inclusão, o Apex distante no horizonte da acolhida efetiva do outro.