Trabalho.
“Todo aquele que não dispõe de dois terços do dia para ele mesmo é um escravo.”
A frase de Nietzsche tem dupla implicação.
A primeira é pessoal. Cada um de nós está destinado a se constituir como ultra-homem, um ser mais elevado do que o humano que o habita. É o chamamento à autoconfiguração.
A segunda é evolutiva. Não somos definitivos, mas seres em trânsito e já no seu ocaso. Por natureza, tendemos à vontade de poderio. É o chamamento à expansão.
No trabalho comum, a fisiologia do corpo e o convívio forçado nos degradam. O cotidiano de ocupação mesquinha, pobre em esperanças, corrói o tempo vital. Bloqueia a auto evolução. O homem capaz de se ultrapassar, do qual depende o destino, seu e da espécie, não é o escravo, o servo, o funcionário, o empregado, mas o artista, o pensador, o poeta, o legislador, o herói.
Lord Byron, que foi o modelo de Nietzsche, conduziu a vida como se fosse o paladino de um romance. Mostrou que para obedecer o imperativo de trabalhar sem nos submetermos à banalidade, devemos gerir a tensão entre a liberdade criativa a e necessidade de sobrevivência. Devemos cuidar tanto da vida mecânica como da que alimenta o espírito.
Não podemos escapar do trabalho. Nem devemos. O alheado do mundo se aliena se si. O caminho para sermos protagonistas da nossa vida é o de cultivar o controle das pulsões. Mas sem as suprimir. O terço do dia que não dedicamos a nós mesmos é benéfico. Realça o conflito entre o eu e a realidade exterior. E, como falou Zaratustra, é preciso ter um caos dentro de si para poder parir uma estrela bailarina.
É isso aí!
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