Epistemologia.
A ideia de que um físico ou um cineasta teriam necessidade da filosofia para refletir sobre equações ou sobre sequências cinematográficas é uma pretensão estúpida.
A filosofia se interessa por todos os objetos. Mas ignora como refletir sobre cada objeto. As ideias, as descobertas, as invenções pertencem a modos de expressão particulares. Um cientista, um artista e todos aqueles que detém conhecimento específico constroem seus próprios campos de reflexão.
Assim pareceu à Gilles Deleuze, para quem a filosofia tem conteúdo exclusivo: os conceitos e a sua gestação. É uma boa ideia. Contestável, mas bastante para evidenciar que o filósofo não detém conhecimentos para dizer a um cineasta o quê e como deve filmar, a um físico como deve pesquisar, a um executivo como deve dirigir uma organização. Mas tem condições de dizer que o cinema é o que conta histórias mediante blocos de movimento, que a ciência é o que cria funções – leis de correspondência entre dois ou mais conjuntos -, ou que uma organização é um conjunto de elementos díspares, que se articulam com um propósito determinado.
No que toca à heurística, é possível que a filosofia tire lições ao estudar as formas de conceituação dos atos criativos. Não que os possa apreender como tal – é duvidoso que mesmo a psicologia mais avançada um dia venha a encontrar um modelo de geração de ideias -, mas é possível que identifique na elaboração conceitual atitudes propiciatórias, como a leitura de um poema pode abrir caminho para uma teoria científica, ou como uma conjectura matemática alcança inspirar uma obra artística.
Tudo o que a filosofia tem a dizer sobre a descoberta e invenção de conceitos, é, circularmente, o próprio ato da conceituação. Essa a ideia central na obra Deleuze, que, aliás, nem é dele, mas de Heidegger.
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