Ética.

Entre os ocidentais, é um traço cultural dominante solucionar dilemas éticos rápida e irrefletidamente. As justificativas, nós as produzimos mais tarde mediante racionalizações – um termo da psicanálise que denota a construção de narrativas moralmente aceitáveis para atos, ideias ou sentimentos cujos motivos verdadeiros se desconhece, se inibe ou se prefere ignorar.
Jonathan Haidt, junto a dois outros psicólogos, George Lakoff e Drew Westen, demonstrou empiricamente que, quando se trata de valores, somos intuitivos, não racionais. Custamos a nos dar conta de que a ética está além dos hábitos, do direito positivo e dos princípios axiomáticos.
As perguntas que Haidt costuma fazer são desconcertantes. Do tipo: é errado fazer sexo com uma galinha morta? E com sua irmã? É correto defecar em um mictório? Você comeria seu cão? A maioria das pessoas está de acordo em que essas coisas estão erradas. Mas ninguém pode explicar imediatamente por quê. Para se justificar, recorrem a conceitos de posse, de legalidade, de isenção e de consentimento. O zoófilo é dono do galinha? O cachorro a ser devorado já está morto? A irmã é maior de idade? Ou seja, buscam argumentos em campos diversos do da ética.
Não só a psicologia experimental, mas a teoria evolutiva, a etnografia e as neurociências comprovaram reiteradamente que no cotidiano a razão não antecede os juízos de valor. Como sabem os advogados e os profissionais de marketing, se você quiser persuadir os outros a agirem contra si mesmos ou a verem e confessarem o que não viram e o que não fizeram, basta manipular seus sentimentos até que racionalizem uma “verdade” que os justificará a posteriori.
UTILIZE E CITE A FONTE.
CHERQUES, Hermano Roberto Thiry, 2021 -A ética “a posteriori”. – A Ponte: pensar o trabalho, o trabalho de pensar – https://hermanoprojetos.com/2021/12/20/a-etica-a-posteriori/
REFERÊNCIAS:
Cf. Haidt, Jonathan (2013) The Righteous Mind: Why Good People Are Divided by Politics and Religion. UK. Vintage Books.