Perplexidades.

Signo é tudo que significa. Significação é o significado do signo para alguém. Em toda comunidade humana as significações dominam, oscilam, declinam e são esquecidas.
Não está claro, talvez nunca esteja, a forma como a vida social será afetada pelos significados que hoje decaem e pelos signos que emergem.
A web conformou uma sociedade de signos tangenciais, onde as pessoas se relacionam sem se verem; onde a memória dos significados é compartilhada, mas não é coletiva; onde o nosso horizonte de sentido, o espaço-tempo que encerra os elementos dos quais podemos apreender, discutir e hierarquizar objetos, se esfuma no dado e na notícia.
A interculturalidade digital deu suporte a significações vazias. Abstrações de marca, como Ferrari e Prada; conceitos descarnados, como o de desenvolvimento, ou esgotados, como o de democracia; noções indiscerníveis, atulhadas de atributos, como as de bem-estar e de sustentabilidade.
A internet rescindiu a possibilidade de uma narração comunitária das ocorrências. Não é possível pensar e sofrer juntos em um mundo infinito no tempo e no espaço, em que a memória de tudo está eternamente disponível para todos, em que os signos dispersam significados, pulverizando inumeráveis significações.
O temor de que o Ocidente tenha perdido qualquer identidade em meio a babel sígnica não é infundado.