Epistemologia.
Gaston Bachelard disse que o contemplativo possui uma visão da evidência; o teórico, um ponto de vista; o prático, uma perspectiva do mundo e que o explorador deve ser um visionário. Todos pretendem ver melhor e seguro. E, no entanto, padecem do “vício ótico”. São fabricantes de imagens. Nada descobrem, porque só se pode descobrir o oculto. Nada inventam, porque só se pode inventar o que antes era invisível.
Ver claro e nítido não corresponde à biologia humana. Pensamos enxergar completamente, mas há um ponto cego no lugar em que o nervo óptico se une à retina. Pensamos ver totalmente, mas a resolução visual absoluta corresponde a um grau de ângulo. Vemos por extrapolação e síntese. Por isso nossos olhos se movem constantemente.
Na Grécia, Aristóteles havia procurado, sem êxito, corrigir a atribuição da ocularidade às atividades superiores e da manualidade às subalternas. Aos quatro elementos de Empédocles aduziu o éter: a quintessência em eterno movimento, incorruptível, nobre, divina, invisível.
Afligia a Aristóteles, a Bachelard e a muitos outros em várias épocas, que não se notasse que a “realidade” é uma imagem gerada pela mente. Que a visão perfeita é uma ilusão fabricada pelo cérebro. Que a essência da descoberta do mundo e da invenção do novo está em enxergar sem ter visto.
UTILIZE E CITE A FONTE.
CHERQUES, Hermano Roberto Thiry, 2022 – Heurística: Para além do visível – a ilusão do real. – A Ponte: pensar o trabalho, o trabalho de pensar – https://hermanoprojetos.com/2022/04/25/heuristica-para-alem-do-visivel-a-ilusao-do-real/