Ética.
Na Declaração dos Direitos do Homem, de 1789, a tolerância foi associada à indulgência para com o pecado, à concessão para com os divergentes e à liberação dos costumes.
No século XIX, John Stuart Mill (1806-1873) avançou razões para defender o direito à liberdade individual ante as coações sociais. Alegou que há uma esfera de ação privativa do vivente sobre a qual a sociedade não pode e não deve interferir. Engendrou as ideias de tolerância para com as diferenças e de que o público e o privado são esferas distintas, cerne do liberalismo moderno.
Em outra vertente do pensamento, o anarquista Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865) endossou o argumento libertário, que diz que só com a tolerância completa seria possível fazer aflorar as falsas ideias, e que isso as anularia. Paralelamente, o positivista Auguste Comte (1798-1857) pregou a tolerância utilitária. Seria aplicada em um primeiro momento como parte do “processo crítico”. Depois, quando se alcançasse uma nova Etapa da História, a tolerância deixaria de ser admitida, dado que poderia conduzir à dissolução. Mais adiante, à esquerda do pensamento, Antonio Gramsci (1891-1937) pregou que a tolerância limitada. Necessária para que o coletivo chegasse a uma decisão racional sobre as finalidades do Partido. Uma vez estabelecidas as metas a serem alcançadas, deveria haver intolerância absoluta, sob pena de diversão e fracasso.
No segundo termo do século XX, o tema voltou à discussão com o conceito de “tolerância repressiva” de Herbert Marcuse (1898-1979), quem sustentou que a condescendência com os dissidentes na sociedade liberal tem o propósito de servir não para a emancipação dos grupos e das pessoas, mas para adormecer os impulsos libertários.
Para nós, no século XXI, permanecem relevantes os argumentos de Mill, Proudhon e Marcuse. Mostram como a autodeterminação é viciada pelas instituições e evidenciam que só a intolerância com o radicalismo despótico pode nos livrar da destruição da liberdade.
UTILIZE E CITE A FONTE.
CHERQUES, Hermano Roberto Thiry, 2022 – Tolerância: o círculo se fecha. – A Ponte: pensar o trabalho, o trabalho de pensar – https://hermanoprojetos.com/2022/04/29/tolerancia-o-circulo-se-fecha/
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