Perplexidades.
Das creditações de racionalidade universal – a devota, a agnóstica e a cética -, só a terceira parece rescindir.
A creditação devota, apresentada por Luiz de Camões, corresponde à Sapiência Suprema da divindade. É ininteligível porque os desígnios do Criador são insondáveis:
… a grande máquina do mundo,
Eterna e elemental, que fabricada
Assim foi do saber alto e profundo
… A máquina do mundo apresentada por Vênus contém tudo. Fora, está Deus.
….mas o que é Deus ninguém o entende
Que a tanto o engenho humano não se estende
Lusíadas, Canto X, Estrofe 80 e ss.
A creditação agnóstica foi descrita por Carlos Drummond de Andrade. Cansado de aguardar uma resposta, o intelecto se arrepende de ter pensado em entender. Nada mais espera. Mas nesse momento a máquina do mundo parece, talvez, deixar-se ver:
… a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia. A treva mais estrita já pousara
sobre a estrada de Minas, pedregosa,
e a máquina do mundo, repelida,
se foi miudamente recompondo,
enquanto eu, avaliando o que perdera,
seguia vagaroso, de mãos pensas.
Andrade, Carlos Drummond de. (1987) A máquina do mundo. In: Nova Reunião. Rio de Janeiro: José Olympio.
A creditação da racionalidade cética é a única que a lógica pode legitimamente postular. No entanto, tem poucos adeptos. Nem um só poema que a defenda é encontrável.
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