Trabalho.
Os iluminados da burguesia complacente isentam os líderes das corporações de defeitos morais. Oferecem a imagem pregnante do executivo disciplinado, do vencedor impávido além de qualquer constrangimento.
No governo das corporações não há espaço nem para o diletante, nem para o Übermensch de Nietzsche: o homem superior, interessado em muitas coisas. Não há lugar para o que fala por si e não por uma posição econômica ou ideológica a defender. Não há lugar para o altivo, para o que se entrega à contemplação e para o preocupado com questões éticas.
A solução lógica para a governança seria a de Platão: guardiães, escolhidos por sua probidade e capacidade intelectual, gerindo discricionariamente as organizações. Mas a história mostrou reiteradas vezes a inviabilidade do modelo. Os governos triunfantes, sejam os do Renascimento, os de Versailles, ou os das grandes corporações do pós-guerra foram, no início, simultaneamente autoritários, centralistas e progressistas. Mas para se manterem no poder, tornaram-se tirânicos, retrógrados e infensos a quaisquer acanhamentos de ordem moral.
Não é diferente o perfil daquele cujo lastro e poder têm origem na política ou na abastança. O líder imponente, que inspira o temor, o asco e o aplauso conformista dos ingênuos, dos abúlicos e dos vencidos.
UTILIZE E CITE A FONTE.
CHERQUES, Hermano Roberto Thiry, 2022 -O brilho furta-cor da liderança. – A Ponte: pensar o trabalho, o trabalho de pensar – https://hermanoprojetos.com/2022/06/22/o-brilho-furta-cor-da-lideranca/
REFERÊNCIAS.
Platão, Republica. In Platon (1981). Obras completas. Traducción y notas de María Araujo et alli. Madrid. Aguilar S.A. de Ediciones.
Steiner George (2012) Tigres no espelho e outros textos de revista The New Yorker. Trad. Denise Bottmann. São Paulo. Globo.